SEJA BEM VINDO!
QUAL É A LINGUAGEM DE PROGRAMAÇÃO MAIS SEGURA?
BLOG-CIBERSEGURANÇA
Essa é uma pergunta que surge com frequência entre estudantes e profissionais em início de carreira: “qual a linguagem de programação mais segura?”.
À primeira vista, a expectativa é que exista uma resposta direta, uma linguagem que, por si só, elimine riscos e torne qualquer aplicação imune a falhas. Mas a realidade é bem diferente.
A segurança de um software não depende apenas da linguagem escolhida, mas de como o código é escrito, revisado, mantido e executado ao longo do tempo. Vulnerabilidades podem aparecer em qualquer cenário: em sistemas legados escritos em COBOL, em aplicações modernas em Python ou até em serviços críticos desenvolvidos em C. O que realmente muda é a natureza dos riscos envolvidos, o nível de exposição e as ferramentas disponíveis para reduzi-los.
Por isso, em vez de buscar “a linguagem mais segura”, a reflexão correta é entender como cada linguagem lida com vulnerabilidades comuns e quais práticas o desenvolvedor deve adotar para transformar o código em algo robusto e confiável.
A INFLUÊNCIA DA LINGUAGEM NA SEGURANÇA
Embora nenhuma linguagem de programação seja intrinsecamente segura, algumas oferecem mecanismos que reduzem a probabilidade de falhas conhecidas. Outras, ao contrário, expõem o desenvolvedor a riscos que precisam ser mitigados com disciplina e boas práticas.
C e C++
São linguagens extremamente poderosas e rápidas, mas dão ao programador controle direto sobre memória. Esse poder vem acompanhado de riscos como buffer overflow e uso de ponteiros inválidos, explorados há décadas e ainda presentes em incidentes atuais. Um simples erro de alocação pode comprometer toda a aplicação.
Java
Introduziu o conceito de gerenciamento automático de memória, reduzindo vulnerabilidades típicas de linguagens de baixo nível. Sua forte tipagem ajuda a evitar erros comuns, mas ainda assim a segurança depende da configuração da JVM e da qualidade das bibliotecas utilizadas.
Python e JavaScript
Trazem simplicidade e agilidade no desenvolvimento, o que aumenta a produtividade. No entanto, sua força também é uma fragilidade: a dependência de bibliotecas externas pode introduzir riscos sérios, como vemos em incidentes envolvendo pacotes maliciosos no PyPI ou no NPM.
Rust e Go
Representam uma nova geração de linguagens que nasceram com a segurança em mente. Rust, com seu sistema de ownership, praticamente elimina classes inteiras de vulnerabilidades de memória. Go, com sua simplicidade e recursos nativos de concorrência, reduz riscos comuns em sistemas distribuídos.
Cada linguagem, portanto, carrega suas fortalezas e fragilidades. Entender essas características é o primeiro passo para tomar decisões conscientes e adotar as medidas de proteção necessárias. Afinal, não se trata apenas de qual linguagem usar, mas de como usá-la com segurança.
A INFLUÊNCIA DO PROGRAMADOR NA SEGURANÇA
A linguagem de programação pode oferecer recursos importantes para reduzir riscos, mas é o programador quem define o nível real de segurança de uma aplicação. A mesma função pode ser usada de forma segura ou insegura, dependendo das escolhas de projeto, da atenção na escrita do código e da disciplina adotada em todo o ciclo de vida do software.
A segurança começa no tratamento das entradas. Quando um desenvolvedor decide validar e sanitizar dados recebidos, ele evita ataques comuns como SQL Injection ou Cross-Site Scripting. Em contrapartida, ao confiar cegamente em dados enviados pelo usuário, abre brechas para que uma simples entrada maliciosa comprometa toda a aplicação. Isso vale para o envio de arquivos: permitir qualquer tipo de upload sem restrições é arriscado, enquanto impor limites de formato, tamanho e local de armazenamento reduz drasticamente a chance de exploração.
O controle de acesso é outro ponto em que as escolhas do programador fazem toda a diferença. Autenticar um usuário não é suficiente se não houver verificações adicionais de autorização. Um sistema que não confere se o usuário realmente tem permissão para acessar determinado recurso pode sofrer ataques de IDOR, em que identificadores manipulados permitem acesso indevido a informações sigilosas. Também é comum encontrar falhas em sistemas administrativos mal protegidos, onde a ausência de verificações específicas expõe funcionalidades críticas.
No campo da criptografia, pequenas decisões têm grande impacto. Senhas armazenadas em texto simples ou com algoritmos obsoletos, como MD5, ainda são encontradas em muitos sistemas e representam riscos enormes. Por outro lado, o uso de algoritmos modernos de hash, como Argon2 ou bcrypt, dificulta muito a exploração. Da mesma forma, expor chaves e credenciais em repositórios públicos é uma falha grave, enquanto manter esses segredos em cofres digitais com rotação periódica demonstra maturidade e disciplina.
Outro aspecto sensível é o uso de serialização e execução dinâmica. O programador que opta por funções inseguras, como eval em linguagens de script ou métodos de deserialização sem restrições, abre portas para execução arbitrária de código malicioso. A simples troca por funções seguras, como safe_load em bibliotecas de parsing, elimina um vetor inteiro de ataque.
Mesmo questões aparentemente lógicas, como controle de tempo e concorrência, exigem atenção. Sessões sem expiração adequada ou tokens com validade exagerada aumentam a superfície de risco. Sistemas concorrentes sem proteção em seções críticas podem liberar operações não autorizadas devido a condições de corrida. Esses erros nem sempre são técnicos no sentido clássico, mas expõem falhas de segurança igualmente graves.
A configuração padrão também é uma decisão do programador. Deixar aplicações em produção com modo debug ativado, logs detalhados expostos ao usuário ou CORS sem restrições é um convite para ataques. Configurar cabeçalhos HTTP de segurança, como CSP e HSTS, e restringir permissões a apenas o necessário são atitudes simples que mudam completamente a postura de proteção de um sistema.
Até o tratamento de erros revela o cuidado com segurança. Mensagens excessivamente detalhadas expostas ao usuário fornecem pistas valiosas para um invasor, enquanto erros genéricos, acompanhados de logs internos completos e seguros, oferecem ao time de TI as informações necessárias sem revelar a estrutura da aplicação.
A escolha de dependências também reflete o nível de responsabilidade do programador. Incorporar bibliotecas sem verificação de origem, sem reputação e sem manutenção ativa é abrir caminho para ataques à cadeia de suprimentos. Ao contrário, selecionar versões confiáveis, fixar dependências críticas e acompanhar vulnerabilidades conhecidas com scanners automáticos fortalece a aplicação e protege contra falhas externas.
Por fim, a disciplina no processo de desenvolvimento é determinante. Revisões de código que incluem preocupações de segurança, testes que validam entradas e autorizações e pipelines de integração contínua com análise estática de vulnerabilidades são sinais de maturidade. Tudo isso só funciona se o programador enxergar a segurança como parte integrante do trabalho e não como algo opcional ou delegado exclusivamente a ferramentas.
A conclusão é clara: linguagens oferecem recursos, mas quem transforma esses recursos em sistemas seguros ou inseguros é o programador. Cada escolha de design, cada dependência adicionada e cada linha de código escrita aproxima a aplicação da proteção ou do próximo incidente.
O PAPEL DAS BOAS PRÁTICAS
Ao final, o que realmente garante a segurança de uma aplicação não é apenas a linguagem escolhida ou a habilidade do programador, mas a prática constante de desenvolvimento seguro em todas as etapas do ciclo de vida do software. Boas práticas funcionam como um alicerce invisível: não aparecem diretamente para o usuário, mas sustentam toda a confiança no sistema.
Isso inclui validar todas as entradas de dados, aplicar controles de acesso adequados, proteger informações sensíveis com algoritmos modernos de criptografia e manter bibliotecas sempre atualizadas. Envolve também revisar código de forma sistemática, testar não apenas o que deve funcionar, mas também cenários de falha e abuso, e adotar metodologias reconhecidas, como o OWASP ASVS e o Microsoft SDL, que oferecem guias objetivos para a construção de aplicações seguras.
Mais importante ainda, boas práticas não se limitam ao desenvolvedor individual. Elas precisam estar incorporadas à cultura da equipe e da organização. Quando a segurança é tratada como parte integrante do processo e não como algo opcional ou deixado para depois, a qualidade do software cresce de forma natural e sustentável.
A pergunta inicial, “qual a linguagem de programação mais segura?”, pode até instigar a curiosidade, mas a resposta está em outro lugar. A verdadeira segurança nasce quando linguagem, programador e boas práticas se encontram em equilíbrio. É nesse ponto que o código deixa de ser apenas funcional e passa a ser confiável, robusto e resiliente diante das ameaças do mundo real.
Por Fernando Bryan Frizzarin




Contato
Entre em contato para dúvidas e sugestões.
comercial01@fenixshield.com.br
© 2025. All rights reserved.
cyberblog@fenixshield.com.br
