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UEBA: MONITORAMENTO DE COMPORTAMENTO DE USUÁRIOS E ENTIDADES

Em um cenário digital cada vez mais complexo, em que ataques avançados e ameaças internas desafiam as defesas tradicionais, surge a necessidade de ir além de antivírus, firewalls e sistemas baseados apenas em assinaturas. É nesse contexto que entra o UEBA (User and Entity Behavior Analytics), ou Análise de Comportamento de Usuários e Entidades.

O UEBA é uma tecnologia de segurança cibernética que se baseia em análise avançada de dados, inteligência artificial e machine learning para identificar comportamentos anômalos dentro de uma organização. Em vez de depender exclusivamente de regras fixas ou da detecção de ataques já conhecidos, o UEBA constrói um perfil de comportamento “normal” para cada usuário ou entidade, como colaboradores, contas de serviço, dispositivos e servidores e a partir disso consegue reconhecer desvios que podem indicar incidentes de segurança.

Essa abordagem permite detectar atividades que muitas vezes passariam despercebidas em soluções tradicionais. Tentativas de fraude, vazamento de dados, movimentações laterais de atacantes ou até acessos indevidos realizados por funcionários autorizados podem ser identificadas não pelo que são em essência, mas pelo fato de representarem uma ruptura no padrão de comportamento.

O UEBA não se limita a responder o que aconteceu, mas busca compreender como aconteceu e se a ação está alinhada ao comportamento esperado. Essa mudança de foco traz às equipes de segurança uma nova camada de visibilidade e de capacidade de resposta frente às ameaças modernas.

UEBA NA PRÁTICA

O funcionamento do UEBA parte de um princípio simples: entender o comportamento normal para conseguir detectar o anormal. Para isso, ele combina três etapas principais que se retroalimentam continuamente: coleta de dados, definição de perfil comportamental e identificação de desvios.

A primeira etapa é a coleta de dados. O UEBA integra informações de diferentes fontes, como logs de autenticação, acessos a sistemas internos, tráfego de rede, uso de e-mails, movimentação de arquivos, registros de endpoints e até dados de nuvem. Essa diversidade permite que o sistema construa uma visão detalhada do que acontece em toda a organização.

Com esses dados, entra a segunda etapa: a definição de perfis de comportamento normal. Cada usuário, conta de serviço ou dispositivo tem um padrão específico de atividade. Isso inclui horários típicos de login, sistemas acessados com frequência, volume médio de dados movimentados, endereços IP recorrentes, localização geográfica de acessos e até mesmo o tipo de dispositivo utilizado. Esse perfil não é estático, mas dinâmico, aprendendo continuamente conforme novos dados são registrados.

Por fim, vem a terceira etapa: a identificação de desvios. Sempre que o UEBA detecta uma ação fora do padrão esperado, gera um alerta para a equipe de segurança. O ponto crucial é que nem todo desvio representa um ataque, mas ele chama atenção para atividades que merecem investigação. O sistema consegue priorizar os eventos com base no risco, reduzindo falsos positivos comuns em ferramentas mais tradicionais.

Na prática, isso significa que um funcionário que nunca acessou informações do setor financeiro, ao tentar baixar um grande volume de planilhas confidenciais, será sinalizado como anomalia. Uma conta de serviço que sempre funcionou dentro de um servidor específico, mas de repente é usada em outra máquina com tentativas repetidas de login, também será identificada. Até mesmo o acesso a sistemas corporativos a partir de países em que a empresa não atua pode acionar alertas imediatos.

O UEBA, portanto, funciona como uma espécie de radar comportamental. Ele não se limita a dizer “houve um login” ou “um arquivo foi transferido”, mas responde à pergunta mais importante: “isso está dentro do padrão esperado para este usuário ou entidade?”. É justamente essa mudança de perspectiva que torna o UEBA uma peça estratégica para detectar ameaças modernas.

EXEMPLOS PRÁTICOS DE USO DO UEBA

A força do UEBA está na capacidade de identificar aquilo que parece legítimo à primeira vista, mas que foge ao comportamento esperado. Alguns cenários ajudam a ilustrar como ele funciona na prática.

1. Funcionário em processo de desligamento

Imagine um colaborador que, nos últimos dias antes de sair da empresa, começa a copiar grandes volumes de documentos confidenciais para um pen drive ou para um serviço de nuvem pessoal. Para os sistemas tradicionais, trata-se apenas de acessos autorizados, já que a conta do usuário continua ativa. Para o UEBA, é um desvio claro, pois aquele padrão de movimentação de dados nunca havia acontecido antes.

2. Conta de serviço comprometida

Contas de serviço geralmente realizam tarefas automáticas e previsíveis, como integração entre sistemas ou execução de rotinas em horários específicos. Se essa conta começa a ser usada em outros servidores, em horários atípicos ou com tentativas repetidas de login, o UEBA sinaliza a anomalia. Esse tipo de detecção é vital, já que contas de serviço muitas vezes possuem privilégios elevados.

3. Acesso de localização inesperada

Um funcionário que sempre trabalha em São Paulo tenta acessar os sistemas da empresa a partir de Moscou às três da manhã. Tecnicamente, as credenciais estão corretas, mas o comportamento destoa do perfil normal. O alerta permite que a equipe de segurança verifique se se trata de um uso legítimo durante uma viagem ou se a conta foi comprometida.

4. Ataques internos disfarçados

Um administrador de TI, com acesso privilegiado, decide consultar dados de RH ou do setor jurídico sem justificativa clara. Como é um usuário autorizado, o acesso em si não geraria alerta em ferramentas convencionais. Porém, ao cruzar o comportamento histórico com o tipo de dado acessado, o UEBA aponta que aquela ação não corresponde ao padrão usual do administrador.

5. Movimentação lateral em um ataque avançado

Após invadir uma máquina, um atacante tenta se mover pela rede usando credenciais comprometidas. Ele acessa sistemas em sequência, busca elevar privilégios e testa conexões incomuns. Cada ação, isoladamente, pode parecer legítima, mas o conjunto de desvios gera uma pontuação de risco elevada no UEBA, permitindo a detecção antes que o ataque avance para fases mais críticas.

Esses exemplos mostram que o valor do UEBA não está em substituir controles já existentes, mas em enxergar onde eles não alcançam. Ao analisar o comportamento, ele amplia a capacidade de identificar ameaças sofisticadas e, muitas vezes, invisíveis aos mecanismos tradicionais.

BENEFÍCIOS E DESAFIOS DO UEBA

O UEBA traz benefícios claros para a segurança da informação. O primeiro deles é a detecção de ameaças internas, que muitas vezes passam despercebidas em ferramentas tradicionais. Funcionários descontentes, descuidados ou até comprometidos podem causar danos significativos, e o monitoramento comportamental ajuda a identificar sinais de anomalia antes que a situação se agrave.

Outro benefício é a identificação de contas comprometidas, mesmo quando as credenciais corretas estão em uso. Diferente de um firewall ou antivírus, que dependem de assinaturas e padrões de ataque conhecidos, o UEBA olha para o comportamento. Isso significa que um login válido em horário ou localização incomum pode gerar um alerta que evita um incidente maior.

Além disso, o UEBA complementa as soluções já existentes, como SIEM e SOC, ao fornecer contexto e priorização. Em vez de sobrecarregar as equipes com milhares de alertas, a análise comportamental ajuda a filtrar os mais relevantes, reduzindo falsos positivos e aumentando a eficiência da resposta.

Entretanto, é importante reconhecer também os desafios dessa abordagem. O primeiro é o custo de implementação. Soluções de UEBA exigem infraestrutura robusta e integração com diversas fontes de dados. Outro ponto é a maturidade do time de segurança. Sem profissionais preparados para interpretar os alertas e tomar decisões rápidas, a ferramenta perde parte do seu valor. Há ainda o desafio da privacidade, já que monitorar comportamento envolve dados sensíveis que devem ser tratados com ética e em conformidade com legislações como a LGPD.

O UEBA não substitui controles tradicionais, mas amplia a capacidade de enxergar ameaças invisíveis. Seu papel é agregar inteligência à segurança, revelando comportamentos anômalos que indicam riscos reais. É uma ferramenta que exige investimento e disciplina, mas que pode ser decisiva para manter a integridade, a confidencialidade e a disponibilidade das informações em um mundo cada vez mais complexo.

Por Fernando Bryam Frizzarim

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